sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A má conduta na seleção de pessoal

Várias revistas têm publicado recentemente reportagens sobre a má conduta de profissionais em processos de seleção. São assuntos como:

- A indiferença, frieza e/ou arrogância no atendimento; mau humor geral e falta de respeito do tipo;
- Entrevistas mal planejadas, apressadas, incompletas, impessoais, sem um foco definido, tornando-se muitas vezes uma repetição desnecessária dos dados que já constam do currículo;
- Dinâmicas de Grupo constrangedoras, agressivas e/ou invasivas.

O assunto é sério e grave, sobretudo num momento em que, por um lado, as empresas falam tanto de qualidade de vida, combate ao estresse, respeito à cidadania, proteção da auto-estima – e, por outro, temos um mercado de trabalho recessivo, levando aos desempregados um sentimento de desânimo, insegurança, preocupação e baixa auto-estima.
O mau atendimento ao candidato se torna mais indesculpável quando praticado por psicólogos, profissionais que, por formação e missão, devem exercitar a empatia, a solidariedade, o respeito à individualidade e a compreensão dos aspectos emocionais das pessoas em geral e em particular daquelas que estão desempregadas.

Certamente não dá para generalizar e as exceções estão aí para justificar a regra. Há ótimos selecionadores. Mas, infelizmente, muitos profissionais de Seleção ou não estão conseguindo administrar seus próprios conflitos e dificuldades pessoais, transferindo suas frustrações para o candidato, ou estão necessitando adquirir ou desenvolver certas habilidades e competências indispensáveis à função.

Numa sociedade que teima em julgar e atribuir poder, valor e importância à pessoa a partir do seu status sócio-econômico, é fácil imaginar o imenso abismo emocional do desempregado, seja ele um ex-“peão”, uma ex-secretária, um ex-vendedor ou um ex-executivo. De qualquer forma, ele não passa de um “ex” para a sociedade e para o mercado de trabalho, o que muitas vezes o leva a perder o respeito e a consideração (que tinha antes) dos vizinhos, dos ex-colegas, amigos e até de alguns familiares e assim mergulha no terrível caos da baixa auto-estima e tende a caminhar a passos largos para a tristeza e a melancolia, que podem evoluir perigosamente para a depressão e finalmente o desespero.

É com esse estado de espírito que ele vai “pedir” emprego na área de Seleção de uma empresa. Na verdade, o desempregado não vai pedir coisa nenhuma: ele vai, isto sim, oferecer seu talento, suas habilidades e sua competência - temporariamente não utilizada - para atender ou suprir uma necessidade da empresa. Se há vagas, é porque há a empresa tem necessidades a serem supridas. Portanto, o candidato vem oferecer e trazer soluções – e só por isso já merece ser tratado com toda a atenção e respeito do mundo. Não é preciso ter pena do desempregado. É preciso apenas ter respeito pelo profissional e, sem perder de vista esse respeito, estabelecer no processo seletivo uma negociação ética e amistosa em que são trocadas informações corretas sobre competências, perspectivas, compensações, etc.

Não questiono a competência técnica destes profissionais, mas sabe-se hoje, a competência não é feita apenas de elementos cognitivos, mas também de comportamentais e atitudinais. Aliás, atualmente, a competência comportamental está sendo muito mais solicitada e valorizada pelo mercado do que a técnica. Muitos talentosos técnicos vêm se perdendo hoje por não dominarem também a capacidade de manterem relações harmoniosas e produtivas com os colegas. Numa época que em os heróis solitários estão em acelerada extinção e se busca cada vez mais o trabalho em equipe, é fundamental que os excessivamente autoconfiantes não percam de vista os limites das boas relações e não enveredem pelos tortuosos e desagradáveis caminhos da boçalidade e da arrogância.

Fala-se tanto em instalar paz no mundo e buscar qualidade de vida nas empresas e, no entanto, há pessoas que conseguem produzir dor, ressentimento, angústia e raiva numa pequena sala de Seleção de Pessoal, como se fôra ali um campo de batalha – com vencedores e derrotados, mocinhos e vilões, iluminados e incompetentes.
É preciso que determinada fração do pessoal encarregado dos processos seletivos nas empresas adquira a consciência de que já basta ao candidato a frustração de eventualmente não conseguir a vaga disputada. Já é sofrimento suficiente, nessa buscapor uma recolocação no mercado de trabalho e pela restauração da auto-Dispensam-se, pois, acréscimos doloridos.

Um tratamento profissional, amistoso, cordial e depois uma comunicação também profissional, com as explicações e justificativas adequadas podem amenizar enormemente essa frustração. Perde-se o emprego, mas mantêm-se a dignidade e auto-estima. Todo candidato precisa saber e sentir que a disputa será honesta e que uns conseguirão a vaga, outros não – não porque valham menos ou sejam menos competentes, mas simplesmente porque alguns perfis de candidatos, pela formação, experiência ou conhecimentos, serão mais adequados às necessidades operacionais ou administrativas de determinada vaga. Nada mais.

É necessário que os selecionadores tenham mais respeito humano, empatia, consideração pelos sentimentos, afetividade, generosidade, paz e solidariedade.
Como já dizia o slgona de uma antiga campanha publicitária social; amanhã, a “vítima” pode ser você.

Em outras palavras, trabalhe de forma a que um dia você não precise passar pela desconfortável experiência de provar do próprio remédio - ou veneno. Claro, para aqueles a que o destilam.

Já dizia Jesus: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." Gálatas 5:14


Floriano Serra (adaptado)